Alex M. Ribeiro Jr. | Jan de 2019 | 3 minutos de leitura
No Brasil, ser fluente na língua equivale a ter um salário cerca de 56% maior em relação àqueles que não o são. Assim, o inglês deixa de ser apenas uma língua; ele se torna uma variável econômica — capaz de alterar estruturas sociais.
O inglês é o novo latim — e um pouco mais. Se a influência do Império Romano era limitada às fronteiras físicas do que se conhecia, hoje esta palavra vai perdendo o seu significado. A digitalização destruiu fronteiras; aquilo que influencia, o faz em escala global.
Uma a cada cinco pessoas fala inglês no mundo. E mais: é a única língua em que se há mais falantes não nativos do que nativos — 950 milhões contra 350, respectivamente — , segundo o renomado linguista inglês David Crystal, em seu livro English as a Global Language.

Inglês: um ciclo vicioso para a desigualdade social
Os números absolutos são impressionantes, mas a distribuição o é ainda mais. No Brasil, por exemplo, apenas 1% da população possui alguma fluência no inglês - de acordo com a British Council.
Os porquês são complexos, mas eles se incluem dentro de uma pauta já bem conhecida: 85% dos brasileiros matriculados no ensino fundamental e médio estudam em escolas públicas.
Esse dado não traria grandes problemas para alguns países como a Suécia (líder no inglês, de acordo com a pesquisa de uma escola de inglês online); mas trás para o Brasil. Aqui, a péssima dinâmica entre as demandas e ofertas de alunos, professores, mercado e do Estado tornam o inglês, no contexto das escolas públicas, praticamente uma língua morta.
Uma pesquisa realizada pela Catho, que envolveu 13 mil pessoas, mostrou o impacto do inglês no mercado de trabalho:
Ser fluente na língua, equivale a ter um salário cerca de 56% maior em relação àqueles que não o são.

Assim, o inglês deixa de ser apenas uma questão comunicativa e cultural; ele se torna uma variável econômica, capaz de alterar estruturas sociais. Ele vem se tornando um elemento democrático quanto à mobilidade social; ele é capaz de impulsionar a ascensão social daqueles que possuem poucas perspectivas nesta direção.
No entanto, no atual contexto brasileiro, percebe-se o inglês alimentando um ciclo de retroalimentação que segue o caminho oposto. Nele, a desigualdade social é responsável por uma má distribuição no ensino de inglês de qualidade. E quanto mais essa má distribuição aumenta — e maior é o peso do inglês como variável econômica — maior é a tendência de aumento da desigualdade social.
O que fazer?
A solução perpassa por um caminho claro: a melhora das metodologias e abordagens, principalmente nas escolas públicas. A British Council também aponta como solução a maior carga horária das aulas, turmas menores (e divididas por nível de conhecimento), treinamento e capacitação presenciais com tutores nativos; e ampliação das oportunidades de intercâmbio para os estudantes
No mais, a tecnologia vem fazendo bem a sua parte. Aplicativos, ferramentas online, Youtube e blogs vêm ampliando a acessibilidade ao ensino de inglês de qualidade — em especial para aqueles 85%, que dependem do fraco ensino das escolas públicas.
A tecnologia de fácil acesso, aliada a uma reforma no ensino e nas relações de aprendizado, pode tornar o inglês um elemento crucial na diminuição da desigualdade.
E o fazer retroalimentar outro ciclo: o da diminuição de barreiras e da melhora da educação.